
Ana Paula Bergamasco,
Editora Todas as Falas.
Se me pedissem pra descrever o livro Apátrida em apenas duas palavras, eu diria: simplesmente lindo! Mas, sendo isso uma resenha, eu o descreverei em muitas mais palavras.
Conhecemos Irena, a protagonista, e a sua vida no campo como filha mais nova de uma família bem extensa, logo no começo do livro. A narração é em primeira pessoa, e é a própria Irena que nos conta sobre a seus pais, seus – vários – irmãos, e enfim, a sua vida. Ainda pequena, Irena conhece Jacob, um garoto um ano mais velho que ela, por quem ela se encanta. Passados alguns anos, sob a desculpa de aprender iíche, a língua dos judeus, os dois se reencontram, e passam a se tornarem amigos.
É também durante a sua adolescência que Irena recebe uma notícia que a abala muito: Jacob irá se casar com Ewa, uma judia. A cerimônia é muito difícil para Irena, e após isso, ela adoece. É Rurik, recém chegado na cidade, e amigo de seus irmãos, quem lhe tira da depressão. Após muita insistência do mesmo, eles se casam e se mudam pra Bielorrússia, por causa da morte do pai de Rurik. Irena está grávida de seu primeiro filho, a quem ela dá o nome de Jan, em homenagem ao seu irmão.
"Naquele momento tive certeza de que o amava. Não saberia traduzir com palavras o que eu sentia. Era diferente do meu amor por Jacob ou daquilo que sentia por meus irmãos e parentes. Era um amor suave e tranqüilo, daqueles que podem durar uma vida inteira." (Pg 57)
Passados cerca de dois anos, algo muito triste acontece na vida da protagonista, e começam, pela Polônia, especulações sobre a Alemanha, e a Guerra. Muitas pessoas estão imigrando, principalmente para o Brasil e para a Argentina, mas Irena não sai do país, e então, a Alemanha invade a Polônia, além de muitas outras nações, começando a Segunda Guerra Mundial, e um inferno na terra, onde muitas pessoas morreram, e os que sobreviveram, querendo ou não, terão sempre em suas mentes o horror da guerra.
Acontecem, no livro, muitas outras coisas, mas decidi não contar, porque acho que Apátrida é aquele tipo de história que você deve ler sabendo o menos possível sobre ela, para que assim, você se surpreenda mais. Bom, uma coisa, não tem como avisar: Preparem os lenços, porque sim, Apátrida provavelmente te fará chorar. Não tem como não se emocionar, diante dos fatos – não especulações, mas fatos mesmo – sobre a chacina que foi a Segunda Guerra Mundial.
Tenho que deixar registrado nessa resenha sobre a ótima narração da Ana Paula Bergamasco. Parece até que ela é a Irena, narrando todos os infortúnios que a Guerra trouxe à ela, e à bilhões de outras pessoas. Por isso mesmo o livro emociona tanto, porque ele não é apenas sobre a Segunda Guerra em si, mas sim sobre as conseqüências emocionais que ela trouxe às pessoas. E a Ana Paula consegue transmitir pra nós todo o sofrimento da protagonista, de um modo que parece que eles aconteceram com ela. Não tem como não achar que ela é a Irena.
Óbvio que a minha resenha nem chega aos pés do que eu realmente queria escrever, do que eu senti lendo o livro e, óbvio, da própria história. A Ana Paula está de parabéns, porque ela consegue transportar o leitor para dentro da história, nos fazendo, também, sermos a Irena. Parabéns, Ana.